Plano Estratégico de Desenvolvimento do Turismo do Concelho de Sesimbra

A Câmara Municipal de Sesimbra apresentou esta semana o Plano Estratégico de Desenvolvimento do Turismo do Concelho de Sesimbra.
Elaborado pela empresa Augusto Mateus e Associados, este Plano estabelece um diagnóstico da situação actual do concelho de Sesimbra, indicando 5 possíveis Vectores de Desenvolvimento Estratégico.
Sendo um documento de cariz predominantemente técnico e não querendo fazer qualquer juízo de valor sobre os vectores estratégicos apresentados, fiquei sobretudo preocupada ao ler o diagnóstico da situação actual e que comprova o que temos andado a fazer relativamente à estratégia de desenvolvimento do concelho, comprometendo sobretudo as gerações mais novas. Alguns excertos:
· “Ao nível da estrutura do emprego, Sesimbra destaca-se claramente no peso da actividade da construção (que ocupa 30% do emprego do concelho)”. Embora não tenha nada contra a construção civil, é preocupante estarmos tão dependentes numa actividade que neste momento está a passar pela maior recessão.
· “30% do desemprego em Sesimbra é, por outro lado, de indíviduos com idade entre 25 e 34 anos”. O que temos para oferecer aos nossos jovens? Temos assistido à saída em massa de recursos humanos qualificados para outros concelhos.
·“Sesimbra evidencia uma % de licenciados ainda baixa no total de trabalhadores por conta de outrém (5%)… o que denota défices ao nível das qualificações dos recursos humanos.” O resultado da saída de recursos qualificados, não nos vai permitir acrescentar valor ao nosso tecido empresarial.
Relativamente aos vectores de desenvolvimento estratégico, o estudo apresenta os seguintes vectores:
· Vector Estratégico 1: Concepção, Desenvolvimento, Estruturação e Marketing de Produtos Turísticos, muito centrados na Economia do Mar;
·Vector Estratégico 2: Ordenamento, Reabilitação Urbana e Regeneração Económica e Social da Vila de Sesimbra;
·Vector Estratégico 3: Criação, Reabilitação e Aproveitamento de Infra-estruturas e Desenvolvimento de Serviços de Apoio;
·Vector Estratégico 4: Dinamização e Aplicação Activa/Virtuosa do Conceito “Turismo Sustentável” no Território de Sesimbra;
·Vector Estratégico 5: Sofisticação da Oferta Turística pela Aposta no Conhecimento, Cultura e Inovação.

Comentários

Em Sesimbra o discurso mediático, e político, e da opinião pública em geral, está dominado pela ideia de que só há dois sectores que contam: a pesca (em grandes dificuldades, provavelmente condenada, dizem) e o turismo. Mas o sector mais importante é o da construção. Se lhe juntarmos outros sectores associados (imobiliário, indústrias da pedra, etc) vê-se que tem um peso avassalador. Já destaquei isto várias vezes, em intervenções públicas, em sebenta de aulas, em documentos técnicos, e, de forma mais acessível, na imprensa local. Mas é tempo perdido: santos de casa não fazem milagres. Talvez a oiçam a si, ou talvez também não. Talvez alguém de fora possa despertar a atenção, mas nem isso é certo. Para os programas eleitorais este sector é inexistente, é apenas um problema.

A força das ideias feitas é tão grande que se continua a pensar que a pesca vai acabar, apenas porque diminuíu o número de pescadores, sem atentar ao aumento de produtividade, do que resultou ter-se Sesimbra transformado num dos principais portos de pesca do país (o 1º no ano passado).

A construção não tem visibilidade: não tem o romantismo heróico da pesca, nem o glamour cosmopolita do turismo (na realidade, patetices de bilhete postal). A palavra "construção" foi substituída por "betão" e os típicos temas empresariais (produtividade, intensidade tecnológica, criação de valor, diversificação de mercados, empreendedorismo, etc) estão-lhe vedados no léxico de políticos e comentadores). "Trabalhar nas obras" é sinónimo de desqualificação pessoal e profissional. E o mesmo destino deve aguardar quem se atrever a falar no sector como actividade económica legítima: afinal, equivale a "trabalhar nas obras".

Desculpe o desabafo.

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